O metaverso e o futuro da educação no Brasil

Tendência pode revolucionar métodos de ensino e aprendizagem, aumentando níveis de engajamento e reduzindo abandono de estudantes

Metaverso já era um assunto debatido entre empresas e fãs de tecnologia, mas o termo decolou e se tornou tema em outubro do ano passado, quando Mark Zuckerberg anunciou a mudança de posicionamento da empresa Facebook, que passou a se chamar Meta e que investiria US$ 10 bilhões na popularização do metaverso. Desde então, o conceito vem movimentando o ambiente de negócios global a partir de suas possibilidades que incluem a quebra, de modo definitivo, das barreiras entre o mundo físico e virtual. Nas palavras do próprio Zuckerberg, o metaverso será o “próximo capítulo da internet”.

Mas quais os reais impactos dessa tendência para a economia e, especialmente, para o setor da educação?

Antes de tudo, é interessante expor uma breve definição sobre o termo que, apesar de bastante discutido nos últimos meses, ainda gera dúvidas no mercado. O termo surgiu pela primeira vez no romance de ficção científica Snow Crash, de 1992, que falava da criação de um universo paralelo a partir da informática. Saindo do mundo da fantasia, de modo objetivo, o metaverso é uma tecnologia que combina realidade aumentada e virtual para a criação de ambientes digitais compartilhados e imersivos, nos quais podemos recriar experiências físicas em um ecossistema online e coletivo.

Além disso, pensando ainda na infraestrutura tecnológica dessa tendência, o metaverso pode ser experienciado a partir de diferentes soluções baseadas em IoT (Internet das Coisas) e inteligência artificial que ampliam as possibilidades da transmissão de dados e da criação de espaços digitais híbridos, os quais espelham o mundo físico nesse novo capítulo da internet e da digitalização das atividades humanas.

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Em suma: estamos vivendo, literalmente, o desenho de uma nova perspectiva omnichannel que deve trazer mudanças profundas nas relações econômicas e sociais ao longo dos próximos anos, tudo com o objetivo de que se reduza o espaço entre o ambiente físico e virtual e que se criem experiências de interação humana.

Diante de objetivos tão ambiciosos, não é por acaso que o metaverso atrai a atenção das mais de grandes empresas dos mais diversos segmentos. Do próprio Facebook a Adidas; do Itaú e da Samsung a varejista sueca H&M. Em termos globais, o metaverso movimentou, já em 2020, US$ 47,6 bilhões em investimentos – valor que deve chegar a mais de US$ 828,9 bilhões até o fim de 2028, segundo projeção da consultoria Emergen Research, que destacou os segmentos de moda, mídia, entretenimento, aeroespacial, defesa e educação como os propulsores desses crescimentos. A Bloomberg, aliás, tem uma leitura ainda mais arrojada, apontando o metaverso como uma oportunidade de mercado que, até o fim de 2024, deve girar em torno de US$ 800 bilhões.

E por falar em educação, sem dúvidas, estamos diante de uma tendência que pode revolucionar os métodos de ensino e aprendizagem, aumentando os níveis de engajamento e, inclusive, reduzindo o potencial abandono de estudantes, sobretudo no ensino superior.

Sobre esse ponto, segundo estatísticas coletadas pela ABRES (Associação Brasileira de Estágios), apenas 36% dos alunos que ingressam no ensino superior acabam se formando – e, dentre os motivos, além da questão financeira que, certamente, segue como um entrave para muitas famílias, há também a questão da falta de motivação e proximidade com os conteúdos oferecidos. Em contrapartida, o número de estudantes matriculados no ensino EaD aumenta a cada ano, pois o modelo, além de oferecer uma maior flexibilidade, diminui custos para os estudantes.

Agora imaginemos um contexto em que o EaD possa se beneficiar de processos de ensino e aprendizagem mais imersivos, dinâmicos e que aumentam as possibilidades de interação dos alunos com outras realidades. Esse é um dos benefícios que o metaverso pode trazer para a educação. O potencial do metaverso, de fato, é quase ilimitado e chegaremos longe em breve, com aulas, por exemplo, sobre a Roma Antiga em um ambiente virtual que imite essa realidade ou uma excursão à sede do Google com uma turma de pós-graduação.

A tecnologia, vale salientar, é determinante para a própria transformação de modelos de ensino que, há décadas, seguem engessados no Brasil, e para a formação de profissionais e cidadãos mais preparados para o futuro. Vale frisar que países que investem no uso de tecnologia no ensino apresentam baixíssimos índices de evasão no ensino superior. Na Coreia do Sul, por exemplo, cerca de 70% da população entre 25 e 34 anos tem ensino superior. Seguida por mais de 50% no Japão e Canadá, ambos referência em uso da tecnologia em educação.

Há ainda outros exemplos que podemos citar. Um artigo de novembro do ano passado publicado pela Cambridge University Press ressalta o potencial do metaverso e do uso de realidade virtual na aceleração do aprendizado de idiomas. Já um estudo científico da Honam University, na Coréia do Sul, destacou as possibilidades do metaverso no estudo de anatomia e aulas de medicina, além de citar o exemplo de um hospital coreano que desenvolveu uma plataforma para cirurgias na coluna utilizando realidade aumentada (uma das bases tecnológicas do metaverso). Finalmente, a EuroNews reforçou, em matéria de janeiro deste ano, as possibilidades para o rompimento de fronteiras geográficas e temporais, com visitas guiadas para locais como a Casa Branca (ou a própria Roma Antiga, como no exemplo que comento acima).

Além disso, vale reforçar os aspectos de uma maior acessibilidade, redução de custos, desenvolvimento de habilidades para o século XXI (incluindo os soft skills de socialização, pensamento criativo, colaboração e capacidade de assumir tarefas múltiplas) e todo o engajamento que se ganha com ambientes mais imersivos e dinâmicos de aprendizagem.

Obviamente, pensando no Brasil, todo esse movimento exige um processo gradativo de formação e familiarização de professores e alunos com novas tecnologias que, de modo mais amplo, ainda precisam quebrar as resistências de um sistema educacional tradicionalista. O lado positivo é que já começamos a ver ecos dessa transformação ocorrendo no país. Dentre outros pontos, já temos exemplos de escolas de pós-graduação aplicando o metaverso para o treinamento de habilidades comportamentais e em um processo de aproximação do corpo docente e discente com soluções de realidade virtual, aumentada e outras tecnologias emergentes.

São os primeiros passos de uma longa caminhada que, para avançar em escala nacional, precisa de incentivo público e da mudança de mentalidades na iniciativa privada, de modo que a tecnologia se democratize e o país avance na construção de seu futuro. O fato é que o metaverso veio para ficar e o que vemos hoje é só o começo de uma profunda transformação que nos proporcionará novas experiências, desafios e oportunidades em um futuro que já começa a ser construído.

* Otello Bertolozzi Neto é cofundador e CEO da Galícia Educação

 

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